sexta-feira, 26 de junho de 2009


Segunda-feira

Cheguei a Floripa de ônibus, vindo de São Paulo.

A bicicleta viajou no bagageiro do ônibus, sem problemas. Eu só tive que tirar a roda dianteira e enrolar tudo com plástico bolha.

Cheguei a Floripa numa segunda feira, as 10:00 horas. Montei e regulei a magrela ali mesmo no pátio da rodoviária. Notei que teria de trocar o pneu traseiro pois tinha um taio. Sai pra trocar o pneu. O serviço foi feito por um bicicleteiro natural de São Vicente e que trabalha numa oficina no centro de Floripa.

Bicicleta arrumada, sai pra conhecer a ilha começando pelo lado norte.

Comi peixe frito e salada em um boteco qualquer e passei a tarde de segunda-feira pedalando e curtindo a cidade, com a bagagem na bicicleta.

À tarde arrumei um hotelzinho no centro e guardei a magrela. Tomei um banho e fiquei sentado em frente ao mercado municipal, descansando e vendo o povo passar.

*Eu não conhecia Floripa; as únicas referências que eu tinha eram o meu amigo ‘rasta’que mora na cidade, mas mudou de telefone e eu não consegui encontrar e também um casal de amigos, a Ana e o Ed, que moram por aqui.

A Ana é uma amiga da família que veio morar em Floripa. O Ed é nativo, nasceu e se criou na ilha e agora eles moram juntos la pros lados do Rio Tavares.

Já combinei com eles e amanhã vou visitá-los e filar um almoço.

Agora são 23;00,e eu já vou dormir um pouco.*

Terça-Feira

Acordei às 6:00, arrumei minhas coisas na bicicleta e desci pro mercado em busca de um café.

Surpresa! Encontrei uma feira-livre bem em frente ao mercado. Tomei meu café numa barraca e fiquei por ali, matando o tempo até que a cidade começou a acordar.

Lá pelas 09:00 parti em direção ao Rio Tavares pra visitar a Ana e o Ed. No começo foi um pouco complicado. Tive que pular um guard-rail com a bicicleta cheia de bagagem e passar por um túnel, mas me disseram ser o único caminho. Depois do túnel, fui pedalando em direção ao Rio Tavares e logo entrei numa ciclovia muito bonita que acompanhava a praia.

Linda paisagem e com direito a encontrar um velhinho ordenhando uma vaca em plena ciclovia. Eu nunca tinha visto alguém tirando leite quase na hora do almoço.

Depois de algum tempo na ciclovia, entrei em dois ou três bairros até chegar no Rio Tavares. A Ana mora numa praia por ali. De um orelhão eu avisei que estava chegando. Encontrei a Ana na rua, e fomos pra casa dela. A minha bicicleta estava bem carregada e eu fui empurrando ela pelas ruas de areia.

O lugar é lindo e a casa mais ainda e com uma cachorrada no quintal.

O Ed chegou e depois de conversarmos um pouco fomos os três dar uma volta na praia antes de almoçar. A praia estava muito gostosa e foi o primeiro banho de mar da viagem.

Esse pessoal mora num lugar muito legal, mas trabalham muito também.

Voltamos pra almoçar e eu conheci a irmã do Ed.

Depois do almoço nos despedimos e fui embora. Quando saía do bairro, fui abordado por um ciclista que queria saber pra onde eu ia com tanta bagagem.

No final da conversa, ele era um cicloturista que já tinha ido pedalar na Cordilheira dos Andes e morava por ali. Um cara muito simpático que me deu a maior força moral: “Vai mesmo, pega a BR-101 e começa logo a viagem.”

Voltei pro centro da cidade e às 16:00 hs atravessei a ponte Pedro Ivo em direção à BR-101.


A
saída de Florianópolis é meio complicada.Como em toda grande cidade você tem que ficar atento
ao tráfego, mas até a BR 101,tem uma marginalzinha que ajuda bastante.


Pedalei por área urbana até por volta das19;30hs quando cheguei ao José.

Todo o caminho desde Floripa ate ali foi de muito movimento e transito carregado.Como eu já estava cansado resolvi terminar o dia, achei um hotelzinho barato jantei e fui dormir.

Quarta Feira

Na manhã de quarta feira eu conversei bastante com os donos do hotel.

Um casal de holandeses,que vieram pro Brasil há muitos anos.saí de São José,ás08;00hs tomei café e fui pedalando rumo norte.

Os primeiros kms foram tranAdicionar imagem

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qüilos, eu peguei uma vicinal, de um lado a BR101 e do outro um mangue enorme. Pedalei por essa estradinha até “Biguaçú;pequena cidade onde comprei uma chave de boca, e um bicicleteiro deu um grau no meu pneu trazeiro e não cobrou nada.

Já na hora do almoço,cheguei em Tijucas, onde comi um prato enorme de arroz feijão e bife.

“ Depois do almoço, foi duro pedalar nol quente.Pedalei a tarde toda.

Agora eu estou em “ Meia Praia”;já saõ21;00hs e eu já jantei.Vou telefonar pra casa e me preparar pra dormir, hoje eu durmo em um posto de gasolina”

Quinta Feira

Saí de “ Meia Praia” ás 07;00 hs, e logo cheguei em Itapema, cidade pequena e bonita que eu atravessei pedalando pela praia.

Depois de pedalar uns quatro quilômetros cheguei a uma bifurcação; parei pra pedir informação numa pequena loja de materiais de construção que havia no lugar,onde fui atendido por duas mulheres bem simpáticas que me explicaram tudinho.

A minha esquerda continuava a BR 101, e a minha direita era o caminho a beira mar, peguei logo a direita.

Foi um caminho muito bonito,mas subi as primeiras ladeiras da viagem.

Essa região é conhecida como “Costa Brava”, é um conjunto de sete ou oito praias pequenas, separadas sempre por uma serra,e que vão em direção a Camboriú.

São praias muito bonitas e o dia estava lindo, tomei um banho de mar em “Taquaras “, e continuei pedalando. Esse trecho da viagem, é cansativo por causa das ladeiras que são muito altas, mas você é recompensado quando vira a última curva da montanha e avista Camboriú e um marzão de perder de vista.

Chegando em Balneário Camboriú,eu e minha magrela embarcamos num pequeno barco que atravessa os viajantes de graça.

Depois de atravessar foi só passear pelo calçadão.

Camboriú é uma cidade média,e a orla da praia tem um transito apertado.Muitos prédios de alto padrão,e muitos restaurantes caros, tive de pedalar muito pra achar uma comida barata.

Depois de almoçar em Camboriú, saí em direção a Itajaí.

Na saída de Camboriú, eu enfrentei a maior ladeira que eu já vi na minha vida.E tive de enfrenta-la depois do almoço e no sol quente.

Depois de praguejar bastante, eu cheguei a Itajaí e atravessei a balsa para Naveguantes.

Em Navegantes, eu peguei a rua da praia em direção norte, pedalando a todo vapor pois estava armando a maior chuva.

Dito e feito; a chuva começou e eu corri pra me abrigar numa área coberta na rua.

O dono da casa era mau humorado e eu logo entendi o porque!. A casa era enorme e ele não fez muro, logo todo andarilho e bebado vinha se abrigar na sua varanda.

A chuva amenizou um pouquinho e eu corri, a achar um hotel na beira da praia de Gravatá. Uma imensidão que mais parecia uma praia fantasma.

Na hora de fazer a ficha uma surpresa: Arlete a dona do hotel tinha nascido em 26 de agosto de 1960. A mesma data que eu!.

Dormi no hotel “ Pedra da Miragaia” e na manhã seguinte seguí viagem pedal ando a beira mar.

Sexta Feira

Logo de manhã, passei pela praia de Penha, onde tomei um banho de mar e fui pedalando em direção a Piçarras.Foi uma parte muito gostosa da viagem; a manhã estava bonita , o transito estava calmo e eu passei perto do Beto Carreiro World, foi uma sensação estranha ver portais e castelos no meio do mato.Se é feio ou bonito,eu não sei não cheguei a uma conclusão. È diferente.

Em Piçarras eu vi as mansões mais chiques da viagem.Coisa que agente só vê no cinema.Casas encravadas na encosta da praia ostentando riqueza e poder como em poucos lugares eu já vi. Pedalei por um bom tempo, entre enormes casas de vidro , tudo muito chique e muito silencioso não passava ninguém na rua.

Eu fiquei cismado e saí dali,procurando um caminho mais movimentado.

De Piçarras, pedalei até Barra Velha passando por vários bairros que acompanham a praia. Almocei em Barra Velha, e fiz uma avaliação da viagem.

Tudo estava indo muito bem,mas apesar de poder seguir pela praia eu estava querendo pegar um pouco

de BR. Resolvi que iría até Joinvile pela BR 101; e de lá eu seguiria para Guaruva já em direção ao Paraná.

No caminho para Joinvile, o trânsito é pesado , mas com cuidado e bom senso,dá pra viajar numa boa.

Caiu a noite, e eu ainda estava a caminho de Joinvile, pedalei umas três horas na escuridão total.

Foi a primeira vez que eu precisei acender as luzes da minha magrela . Minha bicicleta tem muita

s faixas refletivas,luz dianteira e traseira, eu tenho uma luz no capacete e também um colete com luz refletiva, é meio escan

daloso mais é pra segurança.

Cheguei numa entrada de Joinvile depois das 20hs, como já era noite, não quis ficar procu

rando lugar pra dormir e fiquei logo na entrada da cidade numa pequena pousada, a pousada Stern

, onde tem um senhor que esta acostumado a hospedar cicloturistas e me deu várias dicas

sobre


Joinvile.


Tomei banho fiz um lanche num posto de gazolina e fui dormir.J

á estava tarde.

Sábado

“No sábado resolvi descansar,

parar um dia ; deixei a magrela na pousada e fui passear a pé pela cidade.

“ Jo

invile é uma cidade grande, no centro tem varias ruas onde se valoriza a arquitetura Européia, deve ser um estilo meio suíço , meio alemã

o. È uma cidade bonita e eu fui conhecer a rua das Palmeiras e o Mercado Municipal.

Dep

ois de pedalar por uma semana, sábado foi o meu primeiro dia de

descanso

. Tomar café e caminhar pela cidade sem compromisso, é muito gostoso.

Amanhã vou sair bem cedo em di

reção a Guaruva,a ultima cidade do estado”.

Domingo

Domingo pela manhã, após um ca

e uma conversa com o Tito,na hora da despedida surpresa: o meu pneu traseiro está vazio.Não acredit

ei.

Aprendi uma lição; checar sempre os pneus.

Eu passei um dia descansan

do e não notei que meu pneu estava furado.Um erro primário.

Estava com muita raiva de mim mesmo, não tive forças pra troca

r o pneu ; fui pro posto de gasolina e pedi pro borracheiro trocar pra mim.

Estava com a moral baixa , por ter fic

ado passeando enquanto minha bicicleta estava na pousada com o pneu furado e eu nem sa

bia.

Porém , continuei a viagem em direção a Guaruva,mas já tinha perdido algumas horas.

“Às 14h

s eu cheguei em Guaruva e na entrada da cidade o pneu traseiro desalinhou. Notei que estava com uma p

orca espanada e não dava mais aperto; ti

ve que descer e ir empurrando a magrela.

No posto Texaco em Guaruva,eu a

rrumei a roda traseira . Depois almocei num galpão enorme , onde assavam carnes e vendiam pro povo.

Depo

is de almoçar peguei a estrada de novo, agora já estou perto da divisa de Santa Catarina com

o Paraná. Minha próxima parada s

erá daqui a 43 km em Guaratuba,já no lado paranaense.

Pedalei com vontade e faltando 13 km pra chegar em Guaratuba , o pneu da frente furou. O domi

ngo não estava indo nada bem.

Como já estava anoitecendo , não quis parar pra consertar nada na beira

da rodovia. Domingo é um dia diferente na estrada , muita gente viajando em grupo , muita gente bebe

ndo, muita gente cansada , enfim fiz o resto do trajeto a pois assim eu também descansaria a bunda.

Ch

eguei em Guaratuba às 20hs empurrando a bicicleta , comi um lanche e já arrumei uma pousada de 15 reais. Já tomei banho

, e estou relaxando pra dormir.

Amanhã ainda tenho de arrumar o pneu.

Amanhã eu começo a minha viagem

rumo ao norte do Paraná.”

Segunda-feira

Levantei bem cedo e aínda com c

huva , mas fui pro centro , falar com o pessoal de uma bicicletaría que me indicaram.

Conheci um pessoal bacan

a.Uma mulher que sabia tudo de bicicleta , e me deu varias dicas , um mecânico muito bom e logo em seguida chegou o filho dela,

que também trabalhava na bicicletaria. Gente de família.

Troquei o banco da minha magre

la , por um banco mais confortável, e saí todo prosa.

Fui pro norte rumo ao Pontal do Paraná debaixo da maior chuva.

Eu

tive que tomar uma decisão ; o clima virou pra chuva mesmo, caía o

maior temporal,e pelo jeito ia durar dias.

Não adiantava eu ficar em alguma cidade esperando o tempo melhorar , pois poderia demo

rar dias , então só tinha um jeito que era ir em frente com chuva e tudo.

Aje

itei a bagagem , vesti uma jaqueta de nylon e pedalei o dia inteiro ,debaixo de muita chuva.

Pas

sei por umas 15 praias até chegar ao Pontal do Paraná.

Lá descobri que seria difícil atrav

essar pra outro lugar que não fosse pra Ilha do Mel. Porém sabendo que da Ilha do Mel , eu conse

guiria um barco pra Paranaguá , embarquei pra Ilha debaixo da maior tempestade.

O barco que faz a travessia estav

a quase vazio , só um casal de nativos eu e a minha bicicleta.

O barco pulava pra todo lado , e eu num canto abraçado com a min

ha magrela , me perguntando o que eu estava fazendo ali!.

De

pois de pedalar o dia inteiro na chuva e de atravessar pra Ilha na tempestade , eu estava ensop

ado , a magrela ensopada , as mochilas ensopadas , mas o conteudo das mochilas estava sequinh

o da silva , pois eu aprendi que devemos levar tudo dentro de saquinhos.

Daí

foi só lavar as mochilas e tirar a areia.Tipo uma limpeza superficial.

Minha estadia na Ilha do Mél , foi rápida. Apenas uma noite pra se

car as mochilas e me recuperar.

Terça Feira

Na terça feira de manhã , eu já peg

uei um barco pra Paranaguá e passei a manhã toda , procurando um barc

o que pudesse me levar pra “ Superaguí “.

Mi

nha idéia é cortar caminho por algumas ilhas até chegar à Cananéia. Eu conheço um pouco e

ssa região e sei que se eu chegar à Ilha do Cardoso consigo chegar á Cananéia.

Esse

caminho é mais rápido , pois se eu for por dentro do continente , terei qu

e dar a volta por varias cidades e ainda subir uma serra .

Conversando com os barque

iros de Paranaguá , conheci o Juruna dono de um barco e figura muito conhecída por todos . O Juruna me ajudou muito

a procurar uma carona de barco .

Às 15hs conheci um pescador que morava em S

up

eraguí , e como ele estav

a voltando

pra lá , concord

ou em me levar ; amarre

i a bicic

let

a no barco e fomos embora.

Cheguei em Superaguí as

18:30 e aqui começa a parte mais tensa da viagem.

Terei de pedalar 38km de praia deserta , e passar por 2 rios com a bicicleta lotada de bagagem. E terei de passar esses dois rios com a maré baixa.

È o único caminho que existe pra chegar num lugarejo que se chama “Ararapira” . ”

Lá duas vezes por semana tem um barco que vai pro Marujá ,que é na Ilha do Cardoso . E na Ilha do Cardoso , eu praticamente já estou em Cananéia .

Amanhã eu tenho de sair bem cedo pra pegar a maré baixa .

Quarta Feira

“ Bom , já é quarta feira , e eu acordei por volta das 05:00 hs e pedalei a manhã toda . A maré está bem baixa.

A uns três quilômetros da vila , encontrei o primeiro rio; tirei toda a bagagem da minha bicicleta e atravessei tudo primeiro. Depois atravessei a bicicleta segurando ela bem alto. A água chegava à minha cintura.

Do outro lado recoloquei a bagagem de novo , e segui pedalando pela praia.

Me disseram que só tinham dois rios , eu já atravessei uns quatro .

Parei de tirar a bagagem da magrela, pra não perder muito tempo; agora eu levanto ela o mais alto possível e atravesso o rio com bagagem e tudo.

A praia aqui é muito bonita, o tempo está meio garoento mas continuo pedalando numa boa. A solidão é total não tem ninguém por aqui . Desse lado da ilha , nós já estamos no estado de São Paulo .

Provavelmente eu já estou perto de Ararapira , mas não consigo achar a entrada .

Por volta das 10:00hs a maré encheu novamente e eu tive que parar de procurar

Como eu tomei chuva a maior parte da manhã , resolvi parar pra me secar em uma dessas taperas que tem na beira da praia .Os pescadores fazem esses cobertos pra guardar tranqueiras .

A indicação do caminho é a seguinte : No final da ilha , a praia acaba em um mangue . Um pouco antes tem uma entrada que vai dar numa trilha ; essa trilha vai por dentro do mato até a Ponta de Ararapíra .

A situação é a seguinte ; a praia já acabou eu já andei pra cacete , já me embrenhei na restinga e no mato e não encontro a tal da entrada .

A casa mais próxima já ficou a uns 10 km pra traz .. Alias da vila de Superaguí até aqui são 38 km e nesse caminho todo só tem duas casas .

Aqui não tem ninguém por perto .

Agora são 12:15hs e a maré já está cheia, eu acho que ela vai começar a baixar lá pelas 15:00hs aí eu vou procurar de novo a tal entrada .

Quarta feira à noite

Já são 21:45hs , e eu estou de volta a vila de Superaguí .

Procurei a entrada de Ararapira a tarde toda mas não encontrei

Procurei pelo mato e pelos barrancos e nada de trilha ; cheguei até a esconder a bicicleta no mato , e ir à nado pra ver se via alguma coisa do mar, mas não via nenhuma praia do outro lado. Só mato e garrancho de mangue .

Por razões de segurança , eu resolvi voltar pra vila . Por volta das 16:00hs eu retomei o caminho de volta , e cheguei à vila já eram quase 19:30 .

Num lugar deserto como esse , agente não pode bobear . São 38 km de praia onde não mora ninguém .

È um parque nacional , e fora da temporada ninguém anda por ali . Você está por conta própria , não pode acontecer nenhum imprevisto , pois ali não tem socorro .

Fui até o meu limite , e voltei na hora certa , pois na volta passei pelo rio mais fundo , já estava de noite .

Atravessei o rio carregando a magrela nas costas .

Atravessei o rio com roupa e tudo , pra chegar logo à vila .

Viagem longa pela praia é sempre uma corrida contra o relógio , pois temos de calcular direitinho as marés pra não ficar isolado em algum lugar esperando a maré baixar .

Enfim , voltei pra Superaguí . Minha bagagem está toda molhada , e eu acho que amanhã eu vou tirar o dia pra descansar e secar as minhas coisas

Hoje eu vou dormir na casa do Magal. , um cara gente boa que tem uma pousada e restaurante aqui. Como não é época de temporada , o bar do Magal é o único lugar em que se pode almoçar ou tomar café , por aqui .

Quinta-Feira

Hoje eu só descansei ,rearrumei toda a minha bagagem , e coloquei tudo pra secar.

Passei o dia descansando e conversando com os nativos . Conversei com o pai do Magal , que é um fandangueiro muito antigo . Ele ficou me contando do estilo que eles tocam por aqui .

Alguns moradores me disseram , que eu não consegui chegar em Ararapira , porque a trilha que tinha no mato não existe mais . A maré comeu a entrada da trilha , e os moradores pararam de usar esse caminho , portanto a trilha fechou sozinha .

Alguns dizem que essa trilha nunca existiu ,e que o povo ia era pelo mato mesmo.

Eu sei que agora , eu quero ir pra um lugar seco , pois já estou cansado de pedalar pela areia .

Já são 22:35 , e eu já reagrupei minhas coisas e a magrela já esta lavada e seca .

Amanhã de manhã vai sair um barco pra Paranaguá bem cedo ; varias pessoas vão fazer compras pro final da semana , e eu vou embora também .

Sexta Feira

Hoje eu acordei bem cedo , e por recomendações do Magal e de outros , fui correndo pro trapiche ., esperar a hora de embarcar . Na noite anterior todos me diziam : amanhã ,você acorda bem cedo ; o barco sai bem cedo ! .

De fato , o barco já estava atracado , mas não saía nunca .Toda vez que o barco ia sair aparecia alguém lá longe na praia e tínhamos de esperar o cidadão chegar e embarcar .

A dona do barco tinha uma espécie de lista de prováveis passageiros , e toda hora mandava uma criança ir na casa de fulano ou cicrano , avisar que o barco já ia partir .

Fulano , não vai mais ! , cicrano está tomando café ! , vinha gritando o menino .

Eu já estava ficando uma féra quando finalmente o barco partiu .

O caminho pra Paranaguá é muito bonito , Durante pouco mais de três horas , o barco vem passando por varias ilhas pequenas até chegar na Ilha do Mel , Ilha das Peças e finalmente na baía de Paranaguá .

Varias ilhas nessa região , são parques nacionais ou unidades de preservação , são lugares muito bonitos , apesar dos problemas enfrentados pelos nativos que tem dificuldade em preservar a sua cultura , pois estão sempre à margem das discussões preservacionistas .

Eu conheço bem esse problema , pois convivi com os fandangueiros em Cananéia e em Iguape . Tenho muitos amigos no litoral sul de São Paulo ,mas isso é assunto pra outra hora .

Enfim chegamos em Paranaguá , eu fui esticar as canelas um pouco , e já estou pensando em terminar a minha viagem por aqui . Já matei a vontade de viajar de magrela , a viagem foi bacana , acima das minhas expectativas; consegui fazer o que tinha me proposto .

Comecei a aventura por Santa Catarina ;foi nesse estado também , a maior parte da viagem . Viajei trânquílo atravessando o litoral sem problemas , dependendo apenas do meu ânimo e da minha disposição pra pedalar . Em Santa Catarina pedalei vários dias pela praia , e com tempo bom , com dias ensolarados e noites frescas

Chegando no estado do Paraná , o tempo já começou a mudar .

Viajei vários dias debaixo de chuva , e tive que tirar a blusa da mochila .

No Paraná , a viagem já foi um pouco mais difícil , um pouco mais cansativa , e quando fui chegando no norte do Paraná , o cansaço físico era o meu maior problema .

Quem diría , Santa Catarina com um litoral enorme , eu atravessei sem problemas.

Já o Paraná , que teoricamente eu atravessaria mais rápido , foi um um trabalhão .

Cheguei a pisar em território Paulista na Ponta de Ararapira ,só não consegui atravessar a floresta e chegar na vila , porque a maré comeu a trilha .

Essa parte da viagem tem de ser mais planejada .

Notei nessa viagem que enquanto eu estava pedalando pelas estradas , a coisa estava indo bem . Mas quando eu comecei a viajar por ilhas e mangues a coisa desandou

Viajar de bicicleta por ilhas e praias , digamos que no mínimo precisa de mais planejamento , pois pedalar vários dias pela areia é desgastante .

Quando pedalamos por estradas , num momento de cansaço por exemplo, podemos diminuir a marcha ou parar um pouco pra descansar .

Quando pedalamos pela areia da praia , muitas vezes não podemos sequer diminuir a marcha , porque estamos sempre calculando as marés .

Se você parar pra descansar a maré pode subir , e aí você pode perder um tempão esperando a maré baixar . O que geralmente eu faço é dar um pique e descançar depois .

No trecho de Superaguí à Ararapira por exemplo ,são 38km de praia .

De manhã tem uma maré baixa , que é o suficiente pra você chegar até Ararapira .

Pra retornar pra Superaguí , você tem de esperar a maré encher de novo e começar o retorno quando a maré estiver baixando novamente ; e volte logo . Se a maré encher antes de você chegar , você fica preso no caminho .

A única coisa que eu quero calcular agora é o meu retorno .

Hoje vou ficar em Paranaguá , jantar no mercado , descansar e amanhã eu vou pra Ilha dos Valadares só pra passear . Depois vou desmontar a magrela , e embarcar num ônibus pra São Paulo .

Gostei muito de viajar sozinho , e já estou pensando na proxima viagem, mas vou ver se convenço a Sandrinha a vir comigo .

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Rabeca, conheça o muito provável pai do violino

Para citar qualquer trecho desta entrevista, favor entrar em contato com a página acima para solicitar autorização ao responsável.
Para autorização de uso de imagens entrar em contato com contato@barroecordas.com.br

Entrevista ao www.musicosemcia.mus.br

Você conseguiria dizer quantas cordas tem a rabeca, esse instrumento de aparência tosca,
tocada por todo o Brasil?

Se responder três, quatro ou até seis cordas, acertou plenamente.
Afinal, como sabem os rabequistas ou rabequeiros, não há um padrão para essa diferenciada caixa reprodutora de sons metálicos, assemelhada ao violino e conhecida há muitos séculos entre diferentes povos.

Valmir Rosa é um desses artistas experimentados na arte de não apenas tocar, mas principalmente construir rabecas e, ainda, a viola caipira e outros instrumentos. Segundo esse paulistano, a provável origem dessa peça é árabe. Os historiadores datam sua origem no período que antecede a produção dos textos bíblicos. Na Ásia e na África elas também são conhecidas desde o começo dos registros escritos. Praticamente, diz Valmir, todas as grandes civilizações tiveram, no decorrer de suas histórias, um instrumento pequeno tocado por um arco, que poderíamos chamar de rabeca. Porém, a que hoje se toca no Brasil, provavelmente é da família das rabecas árabes.

A história, observa Valmir, "registra que os europeus conheceram a rabeca durante a dominação moura na Europa. Os europeus absorveram-na como instrumento usado pelos menestréis, sendo muito difundida na Idade Média. Conta-se que a rabeca viajou de castelo em castelo e alastrou-se, até que se tornou objeto comum a nobres e plebeus".

Já no final da época dos feudos, no período em que as cidades começaram a se formar, a música tomou uma nova dimensão, exigindo instrumentos mais elaborados, que permitiam mais recursos sonoros e melhor execução. Foi, então, que pela mão dos mestres artesãos, provavelmente na Itália, a rabeca deu origem a um instrumento mais exato e de melhor execução, que conhecemos hoje por violino. Entretanto, nas aldeias mais afastadas dos grandes centros e entre a população mais pobre, a rabeca continuou o mesmo instrumento tosco e rústico, geralmente manufaturado pelas mãos de quem os tocava.

Cordas e afinação
Nessa época, lembra Valmir, a rabeca tinha três cordas. E foi provavelmente ess
e modelo de instrumento que chegou ao Brasil pelas mãos dos portugueses no começo da colonização. Posteriormente, viriam as suas variações, trazidas pelos espanhóis, italianos e outros povos.

"Não existe um padrão específico na construção da rabeca. E também não existe uma afinação fixa. Em cada lugar ou região do Brasil ela é feita e afinada de maneira diferente", relata Valmir, nascido em 1960, no bairro de Vila Esperança, zona Leste da capital de São Paulo e descendente de uma família originária de Franca, também no Estado de São Paulo.

Existem rabecas de três, quatro e até de seis cordas. Essas são as mais comuns. Porém, um rabequista pode fazer sua peça e tocar com quantas cordas quiser. "A afinação igualmente é uma coisa muito pessoal, que depende da educação musical ou da intuição do tocador. Eu só toco rabeca de três cordas. Como toco muita música caipira, afino a primeira corda em Si, a segunda em Mi e a terceira em Si oitavada", diz esse produtor de instrumentos.

Alguns de seus amigos afinam, por exemplo, quatro cordas em intervalos de quintas, semelhante ao violino. "Quanto às rabecas de seis cordas, eu só vi uma até hoje, na mão do rabequista Teo Azevedo, que tinha sido construída pelo rabequeiro Sinval da Gameleira. E não perguntei a afinação. Para falar a verdade, eu não me lembro inclusive se era de seis ou de oito cordas", assinala Valmir, numa indicação de que há realmente uma grande individualização entre o instrumentista e sua peça em particular.

Amor pelos instrumentos

Valmir começou a se afeiçoar por instrumentos musicais quando, em sua juventude, passou a freqüentar rodas de capoeira e os terreiros de Umbanda. "Aí sim eu comecei a fazer meus próprios instrumentos musicais. O primeiro foi um berimbau. Aprendi com meus colegas de capoeira, pois quase todos os capoeiristas sabiam fazer berimbau. Depois, por curiosidade e observação, aprendi a fazer caxixi (um brinquedo infantil encontrado na Bahia), pandeiros e pequenos tambores, sem ninguém ensinar. Até hoje conheço os toques clássicos da capoeira e sei cantar vários pontos de umbanda que aprendi nessa época", diz o construtor.

Crescido nesses ambientes, seus primeiros instrumentos foram assim os dedicados à percussão, de origem africana, bem como outros mais usados no Nordeste. Nesta fase de sua vida um amigo transmitiu-lhe ensinamentos sobre a construção dessas peças. "Era o João Junior e nós tínham

os uma barraca onde vendíamos os instrumentos, na feira de artes da Praça da República, em São Paulo. Pesquisamos juntos durante muito tempo e chegamos até a viajar pela Bahia e tocar com várias pessoas", relata Valmir, falando de sua estada por seis anos neste Estado brasileiro.

Inquieto, então, Valmir diz que sentia falta de um trabalho que tivesse mais a ver com sua identidade. "Comecei a conhecer os instrumentos qu

e eram usados nas festas populares paulistas e percebi que as violas usadas nas Folias de Reis e no Cururu eram as mesmas que eu ouvia no rádio quando criança, lá para os lados da Vila Rio Branco, no bairro de São Miguel. Foi o retorno de uma paixão que estava escondida na minha memória", pontua o rabequeiro.


Técnicas de construção

Valmir não se considera luthier, alegando que seus instrumentos são de construção popular, tal como o fabricam os caboclos e caiçaras, empregando técnicas desenvolvidas há várias gerações, nos seus respectivos lugares de origem. "A luteria é uma escola européia com técnicas adquiridas em cursos regulares, embora tenhamos muitos luthiers autodidatas. Portanto, não uso madeiras ditas nobres como o abeto ou o pinho sueco, que são madeiras importadas e caras. Uso madeiras simples, mas muito boas para instrumentos, tais como o pinho, cedro, caixeta e outras", afirma o construtor.

Quanto à complexidade na construção de uma rabeca, ele acha que isso depende muito mais da habilidade manual e da convivência com a produção do instrumento do que da matéria-prima ou qualidade das ferramentas. Um rabequeiro popular não faz acabamento lisinho e perfeito no seu instrumento, como os luthiers fazem nos seus violinos, usando lixas, vernizes e polimentos. "O rabequeiro faz um instrumento mais selvagem. A aparência rústica faz parte do instrumento. Porém, a rabeca tem que ser exata, ser afinada e obedecer ao seu tocador", assinala.

As rabecas geralmente têm a alma (pequeno cilindro de madeira colocado verticalmente entre o tampo e o fundo e cuja finalidade é transmitir as vibrações sonoras à caixa de ressonância), mas não usam barra harmônica (um sarrafo de sustentação). O som metálico da rabeca deve-se mais às condições da madeira, tratada de forma diferente, ao emprego de seu arco típico e, também, aos encordoamentos de aço. E tal como o faz no fabrico da viola caipira, ele emprega na produção de rabecas o pinho, cedro-rosa e caixeta.
"Para tambores, pandeiros e outros, uso também alguns compensados, tampas de garrafas, cabaças, cocos e algumas sementes de bambu", relata Valmir, que inclui em sua oferta de instrumentos igualmente o reco-reco, cuíca, tambor de língua, matraca, tambor falante, caixas de folia, marimba, ganzá (chocalho), maracá, afoxé, marimba, calimbas, balafom (xilofone), uma lista que ele considera extensa.

A rabeca no Brasil

A rabeca nordestina é a mais conhecida entre nós, principalmente porque os rabequeiros pernambucanos são muito atuantes. Lembra Valmir que é esse o caso de Antônio Nóbrega; de Siba (rabequeiro do Mestre Ambrósio); do mestre Salustiano; e de Nélson das Rabecas, originário de Alagoas. De qualquer forma, a rabeca é encontrada em várias regiões do Brasil.

"Eu pessoalmente já encontrei rabequeiros no Paraná, em São Paulo e Minas Gerais. Em outros lugares sei que existem. Em São Paulo e Paraná vi muitos no litoral. Os caiçaras fazem rabecas escavadas, ou seja, esculpidas em uma só peça de madeira. Entre eles, Arão Barbosa, Florêncio, Valter Davino, Djalma de Freitas, Ricardo Nunes Pereira e Pica-Pau, apenas para mencionar alguns", comenta Valmir.

No litoral Sul de São Paulo, a forma de música mais executada pelos rabequistas é o fandango, um conjunto de ritmos e danças que eles dominam, sob ritmos que eles denominam don-don, chimarrita, querumana, reiada e outros. No interior deste Estado também tem muito rabequeiro e a rabeca que eles fazem é diferente da dos caiçaras. "São rabecas montadas, feitas pouco a pouco, de peça em peça. É o tipo de rabeca que faço", observa Valmir, que toca música tradicional paulista, não aquela de palco, mas a que se executa "nos quintais, nas funções religiosas e nas festas e rodas de viola".

De Minas Gerais, Valmir cita Teo Azevedo, de Alto Belo, com quem já participou de um giro de sua Folia de Reis, ocasião em que conheceu Sinval da Gameleira, Marimbondo Chapéu e Antônio Preto, outros rabequeiros da Folia.


Um músico diferente

Apesar de a rabeca ser considerada um instrumento musical, Valmir entende que o rabequeiro não é um músico. "O rabequeiro aprende a tocar por intuição e observação. Sua música é extremadamente pessoal, pois traz em si as tradições oral e familiar, e o modo de viver de cada um", acentua Valmir, lembrando que num único bairro podem ser encontrados dois rabequeiros, mas cada um executando um único ritmo, de maneira completamente diferente.

"Os rabequeiros que conheço não sabem nada sobre técnica de afinação ou notas musicais. Aprendem a afinar a rabeca de ouvido, num tom qualquer e a desenvolver seus temas a partir dali, por pura intuição. São pessoas livres e tocam o que querem. Porém, ao contrário do que parece, tocar um instrumento sem metodologia didática e sem regras musicais é muito mais difícil, pois requer habilidade e poder de improvisação. Note-se que 90% do que toco é improvisado", explica o rabequeiro. Supostamente, não existem professores de rabeca.

Há também músicos que incorporam a rabeca como um segundo instrumento. Viram alguém tocando e se apaixonaram por ele. São esses músicos que fomentam o mercado, que a compram, adquirem livros e discos a seu respeito, e viajam para conhecer as festas e os rabequeiro.

Valmir acredita que esses músicos vão levantar, de forma decidida, a bandeira da rabeca em futuro próximo, "pois, junto com a rabeca, eles aprendem a ouvir música caipira; a conhecer a cultura caiçara; a visitar as Festas do Divino e as Folias de Reis; e a ver a vida de um modo diferente". Ele observa que existem, ainda, os músicos que tocam composições antigas ou medievais. "São músicos bem formados, pesquisadores que tocam instrumentos de época como rabecas, violas da gamba, vihuela ou guitarra barroca. Verdadeiros pesquisadores da história da música". Não é possível imaginar o número atual de rabequeiros no país.

A produção de rabecas

Valmir faz basicamente dois tipos de rabeca, a de madeira e a de cabaça. Seus arcos empregam rabo de cavalo, nylon (linha de pesca) ou fibra vegetal. As peças têm bom acabamento, porém, com aparência rústica, projetando som forte e selvagem.

"Faço uma por uma, com muito carinho, cada uma com um timbre único. A rabeca de madeira eu faço sempre do mesmo tamanho, porque foi o modelo que desenvolvi é o meu jeito de fazer. A rabeca de cabaça muda, pois as cabaças não são sempre do mesmo formato. Todas são de três cordas. Elas são adquiridas por músicos que já tocam esse instrumento ou por iniciantes e até colecionadores", relata o profissional. Encomendas especiais que lhe chegam em São Paulo podem incluir rabecas do estilo medieval ou até de caixa de charutos.

O rabequeiro encontra em Sandra Abrano, sua mulher, uma companheira também como produtora de instrumentos. Em seu galpão de trabalhos, ela ali fabrica peças feitas em argila, cujos modelos podem ser cópias dos formatos tão antigos quanto aqueles registrados na história do próprio homem.

Os sons de suas pequenas flautas, apitos, ocarinas e outros se somam aos das rabecas de Valmir no final da produção da Barro e Cordas, a pequena empresa de onde os instrumentos saem inclusive para outros países.


Barro e Cordas
www.barroecordas.com.br